Leonor Carradas, "S/título" 2019, serigrafia a quatro cores, 70 x 55 cm
O projeto “Territórios”, permitiu-nos sobretudo explorar os nossos próprios conceitos de território, fronteira, limite, espaço e lugar. Por esse motivo para serigrafia, direcionei o projeto para uma reflexão mais pessoal da minha concepção de território ou fronteira. Perguntei-me qual era o meu território, qual era a minha zona de conforto? Coloco-me me no mar, não a olhar para ele, nem a flutuar ou a nadar, mas sim no meio daquela massa estranha, envolvente, pesada. Uma matéria que nos afasta por instantes da nossa existência terrena, que nos puxa para a nossa própria consciência. Fico ali rodeada de uma visão fusca, sem clareza, sinto os raios do sol que fustigam a água, não oiço nada senão os meus pensamentos e as pedras que chocam umas com as outras com a sua ondulação. Penso na sua força, na força das correntes que me puxam para o abismo. Penso na morte, um pensamento que me ocorre frequentemente. Mas não tenho medo. Não tenho receio. Percebo a sua importância - se não existisse, se fossemos imortais, desprezaríamos a vida, as oportunidades, os momentos, as cores. Percebo a importância das cores, da vida e experiência que trazem consigo. Sinto-me segura num sítio onde essas cores possam existir, dando o vida aos sonhos e às experiências. Entendo por fim que as manchas de cor e as culturas têm o mesmo tipo de território. Um território que delimita o seu próprio espaço com a sua essência, que não necessita de fronteiras físicas ou de contornos para entendermos onde acaba. Territórios que convergem e que dão fruto a um novo espaço representado por esta união. Num primeiro instante optei por tentar explorar a sensação que tenho quando me imagino na minha zona de conforto, explorando massas de água e a sua plasticidade e maleabilidade. Seguidamente, tentei comprometer-me a desenvolver propostas que fossem ao encontro da estética e do estilo um pouco mais figurativo utilizado nos estudos do projeto de gravura. Após vários esboços, experimentei trabalhar em Photoshop onde desenvolvi os meus últimos estudos e a minha proposta final. Estas propostas tiveram como base um estudo a guache, e destacaram-se pelo uso de cores opacas e intensas em formas/territórios pouco nítidos, representando as visões distorcidas que a água apresenta devido à refração da luz. Inspirada no trabalho de Max Ernst e na distorção da figura humana, eu pretendi que a minha composição final fosse uma simbiose entre uma visão distorcida de uma multidão, que com perseverança chegou ao seu destino, deixando para trás um mar turbulento, e a vista aérea de um conjunto de territórios que são delimitados pela própria essência, pela própria cor.
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