Leonor Carradas, "S/título" 2019, água-tinta, água-tinta de açúcar, água-forte e chine-collé, 36 x 24 cm
O projeto “ Territórios” teve como objetivo provocar-nos a explorar e refletir sobre as noções dos conceitos de território, fronteira, limite, espaço, lugar. Noções que podem ser tão frágeis e pessoais quanto comuns e gerais. Apesar de livres para enfrentar este projeto fomos encorajados a pesquisar as diversas realidades intrinsecamente ligadas com os conceitos a explorar. Realidades como o exílio, as mobilidades contemporâneas, a construção de cidadanias desiguais, as políticas de acolhimento, a xenofobia e os refugiados. Na parte do projeto que direcionei para a tecnologia de gravura decidi explorar uma componente mais social e crítica do tema em desenvolvimento. Decidi tornar o mar e a morte os meus temas de análise, sendo que ao longo do projeto estudei plasticamente e conceptualmente a suas relações com o tema proposto. Apercebi-me que tanto o mar como a morte, são paralelamente territórios e fronteiras. Territórios presentes, obscuros, avassaladores. Fronteiras suaves, inconstantes, fluídas, transversais. O mar, o território híbrido onde a calma e a suavidade se transformam tão facilmente em força e agressividade. O único território que toca em todos os outros e que faz de fronteira entre culturas e sociedades tão opostas e distintas, que as une e separa. Uma fronteira ténue e oscilante que não segue senão as regras da natureza. A morte, no entanto, considero que seja mais fronteira do que um território. Uma fronteira que, como o mar, nos liga a todos, não fisicamente, mas como uma verdade respeitada, apesar das suas diferentes interpretações, por todas as culturas, religiões e sociedades. É a fronteira que separa a realidade de um território desconhecido e indeterminado. Conjuguei estes dois territórios plasticamente, e gradualmente comecei a focar-me na representação da figura humana, inspirada por Giacometti, e na importância da união e na sua força social e política, inspiradas pelas gravuras de Kathë Kollwitz. Na composição final, uni os dois estudos que representavam respectivamente a morte e o mar. Paralelamente aludi à realidade dos refugiados que levam consigo nada senão a sua essência, e que corajosos mas hesitantes enfrentam o seu destino, a morte ou o mar, ambos fronteiras para uma nova realidade, para um novo território. Com o uso da cor, sua gradação e inspirada no movimento surrealista, com especial destaque para Salvador Dalí, pretendi que a gravura, fosse assim como os temas representados, uma fronteira, que se situa entre o abstrato e o figurativo, o real e o onírico e entre a esperança e o medo.
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