Paisagem. É um termo bonito, utilizado para descrever algo que, na minha opinião, é demasiado bonito para ser descrito. O mundo está repleto de lugares belos, de lindas e das mais variadas paisagens. Há beleza na geometria dos campos de cultivo pelos agricultores organizados. Há beleza nos locais onde a natureza instintivamente formou certos padrões. Há beleza nos sítios onde a natureza cresceu tão selvagem que poucos são os humanos que se atrevem a explorá-los. E em nós, seres vivos, que fazemos parte da paisagem, há beleza na harmonia dos nossos gestos e no convívio que por entre nós ocorre, mas esta cessa quando cresce dentro de alguns o sentimento de ganância e de sede pelo poder. É quando alguém afirma a sua superioridade perante outrem ou alguma espécie que o mundo se torna sombrio e desesperante. São gerados conflitos emocionais e consequentemente físicos. Num mundo que é de nós todos há quem sinta que merece mais do que os outros, e, no meio disto tudo alguns acabam por ficar sem nada. Então, desde alianças instáveis, até aos mais imprevisíveis bombardeamentos há decisões que têm de ser tomadas e muitas vezes o mais acertado é ir em busca de um território mais calmo. Este período de transição para um novo território está carregado de diversas paisagens. A busca por um lar mais estável encarregar-se-á, certamente, de desvendar lugares que em tempos foram desconhecidos, e sendo o mundo um local rico em incríveis paisagens, este tempo de incertezas e inseguranças será passado a atravessar ou a sobrevoar lugares coloridos e brilhantes. Mas o ser humano é um ser complicado, pois mesmo que a paisagem acabe por influenciar o nosso estado de espírito, o mesmo não deixa de influenciar a própria maneira como sentimos uma determinada paisagem. Um dia de sol não é tão bonito se estivermos de coração partido. Assim, uma paisagem não será tão calorosa se estivermos a despedir-nos do que até então foi o nosso país de origem. Haverá sempre, na observação da realidade, um grito do nosso interior. Pegando nesta ideia comecei a esboçar paisagens que conseguissem combinar a beleza da natureza que rodeia um exilado no momento de passagem para um novo território, com a intriga e a dor asfixiante do corte com as suas origens, criando assim uma paisagem na qual se espelhasse a expressão do interior de um refugiado. Explorei a textura da barra de carvão vegetal através da invenção de formas contorcidas que representassem a solidão e a amargura de ser exilado, prestando atenção à forma como as poderia modelar e dar volume criando uma sensação de perspetiva e consequentemente de paisagem. Surgiram algumas propostas para serigrafia e decidi escolher a que tinha o fundo azul. Também pela sua forma, que fluía da maneira mais natural e orgânica, mas especialmente pela cor. Aqui o azul funciona como um fundo, ao contrário do vermelho que entra em colisão com as formas a carvão. É este fundo que transmite profundidade e deixa a forma ser protagonista. Esta serigrafia acaba por representar um determinado momento da vida, o exílio de alguém, ou talvez a sensação de exílio em si. Enquanto paisagem, tem uma certa cronologia e ordem nos eventos. Há introdução, um começar de uma nova fase, de um novo processo de aprendizagem. Há continuidade e os eventos enrolam-se em complicação e densidade mas eventualmente a matéria vai-se estabilizando e chega a um lugar mais calmo, que se assemelha ao ponto de partida e acaba por ser umvisão mais amadurecida sobre o mesmo. No fundo a serigrafia conta a história de um tempo incerto.
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