Esta gravura é também uma paisagem, mas em vez da tridimensionalidade produzida pelas formas, atenta mais, tanto no percurso que vai de um território físico para outro, como no caminho que é percorrido interiormente. É ao mesmo tempo um pormenor da paisagem completa. Um foco de tensão. Na narrativa da história que está a ser contada a gravura assume um papel mais momentâneo. Aparece no momento de maior tensão e dissonância, quase que para lhe dar ênfase. É um emaranhado complexo e confuso, de sentimentos, escolhas e caminhos que se entrelaçam num dado momento da vida e acabam por culminar num apogeu que consiste numa partícula da manta que é a serigrafia, sendo essa uma cronologia mais completa de todo este processo de exílio. Aqui entra novamente o azul como pano de fundo e, para o emaranhado de percursos, o vermelho protagoniza como um sentimento agressivo e sobressaltado que precisa de ser ouvido mas não pode. Entre a serigrafia e a gravura pode ser estabelecida uma analogia com o mito das moiras pois estas teciam a vida de cada um de nós, comuns mortais estando uma delas encarregue pelo começo da vida, começando a tecer o fio da mesma, a segunda pelas complicações ou fortunas durante o desenvolvimento da vida, tendo total controlo da roda da fortuna, e a terceira pelo final da vida que se encarregaria de cortar o fio quando chegasse o momento. Aqui não é a vida do início ao fim, mas é um momento de exílio, de mudança e aprendizagem interior que é tecido pelo universo, criando uma manta composta por um tecido agitado e revoltoso que se ondulará ao sabor do tempo e do perdão.
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